Teorias e Práticas de Aprendizagem Ativa - EDU682 - 2.3

A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL)

Conteúdo organizado por Natasha Young Buesa em 2023 do livro Aprendizagem Ativa via Tecnologias, publicado em 2019 por Antonio Siemsen Munhoz, pela editora InterSaberes.

A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL)

Objetivos de Aprendizagem

Introdução 

A aprendizagem Baseada em Problemas (ABP ou ABProb para diferenciar da Aprendizagem Baseada em Projetos, ou ainda PBL) é, sem dúvida nenhuma, uma metodologia inovadora no contexto educacional, na qual, em linhas gerais, o professor apresenta um problema e os alunos precisam encontrar a solução, usando suas habilidades e conhecimentos, com autonomia e responsabilidade.

A ideia é que seja um processo simples, seguro e eficaz para que o currículo se desenvolva com a solução de problemas semelhantes aos que o aprendiz enfrenta na sua vida profissional, procurando aproximar o estudante da pessoa que o mercado deseja e precisa. Vale ressaltar que diariamente surgem no mercado de trabalho problemas que precisam ser resolvidos e muitas vezes o colaborador recém contratado tem pouca ou nenhuma vivência profissional.

É um método de instrução que usa a lógica e o raciocínio, baseados em um conteúdo relevante e em extenso trabalho para encontrar a solução de problemas do mundo real com uma proposta de aprender fazendo.

Sabemos que o ser humano costuma ser curioso e adora desafios, e resolver um problema real representa, com certeza, um desafio para os alunos, o que deve tornar o momento da aula mais dinâmico e agradável.

Quando o estudante precisa resolver um problema em conjunto, por meio de uma aprendizagem independente, baseada na colaboração, na cooperação e com um objetivo em comum, a formação de grupos passa a ser algo natural, podendo-se transformar em um profissional do conhecimento, como o mercado espera. (Munhoz, 2019)

Estivemos vendo em aula anterior a Aprendizagem Baseada em Projetos, e esta metodologia que está sendo estudada agora apresenta bastante semelhança, porém a diferença é que enquanto a ABProb. trabalha com fatos isolados a ABProj. inclui cenários completos e a evolução deles até a finalização do projeto. É indicado usar a ABProb. quando o conteúdo não é sequencial e são necessárias abordagens pontuais. Já a ABProj. considera assuntos sequenciais. (Mello, Neto & Petrillo, 2019)

Agora vamos conhecer com um pouco mais de profundidade essa metodologia inovadora.

Origem, conceito e características da PBL

A ideia de trabalhar com problemas como forma de aprender e ensinar não é nova, pelo contrário, conhece-se a história do filósofo Confúcio (500 a.C.), que só auxiliava os seus seguidores com a resposta para um problema ou dúvida depois que eles tivessem feito algum esforço procurando a solução. (Barbosa & Moura, 2013)

Também pode-se dizer que tem base na teoria de Charles Maguerez, no Método do Arco, cujo foco é promover o ensino e a aprendizagem com base na realidade. Foi inserida na formação para o mercado de trabalho de analfabetos de países africanos que migraram para países em desenvolvimento visando trabalhar nas indústrias, usinas de petróleo e agricultura. Em síntese esse método tinha como premissa observar a realidade, descobrir os problemas e escolher um de cada vez para resolver.

Figura 1 - Planejamento do Arco da Problematização

Fonte: Prado, 2012, p. 176, como citado em Bacarin, 2020, p. 85

No entanto, a sistematização, de fato, da PBL surgiu na década de 1960, na McMaster University, no Canadá, tendo sido aplicada nos cursos de medicina, aliás, muitas escolas de medicina em todo o mundo continuam usando essa metodologia. Hoje em dia é aplicada na administração, na arquitetura, nas ciências da computação, nas ciências sociais, na economia, nas engenharias e na matemática.

Podemos dizer que no Brasil ela apareceu na década de 1990 em escolas de São Paulo e do Paraná. Em 2005, esta metodologia foi inserida no currículo de dez cursos de graduação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP, nas disciplinas de Resolução de Problemas.

A PBL se baseia na apresentação de um problema real por parte do docente, e na investigação desse problema pelos estudantes, levando em conta suas causas e efeitos, para chegar à solução. Não é um método que resolve o problema em si, ele projeta possíveis soluções conforme a situação que foi exposta pelo professor.

Já estudamos que a PBL parte de uma situação-problema tirada da realidade do estudante, porém não pode apresentar um grau de dificuldade muito alta, porque pode desmotivar o aluno, mas também não pode ser muito fácil a ponto de apresentar uma solução muito óbvia (o que também vai desmotivar). 

Deve ter o estudante como centro do aprendizado, estimular o pensamento crítico, o trabalho em grupo, a capacidade de resolução de problemas e o poder de argumentação.

Ela tem como característica ser uma atividade ativa, centrada no aluno, que possibilita que ele saia da teoria e adentre na prática, fazendo com que tenha um sentimento de pertencimento com relação ao conhecimento que está sendo assimilado (de forma individual ou coletiva).

É uma metodologia que ativa a memória de longo prazo visto que quando o professor gera as reflexões para que os alunos cheguem à resposta, eles entendem a aplicação do assunto, relacionam com suas vidas e tendem a reter na memória a real aprendizagem.

Uma outra característica é estimular o pensamento crítico, visto que nos grupos de discussões ocorre a análise das situações e a proposta de resoluções. Nesse contexto, o aluno precisa praticar a escuta ativa, prestar atenção ao colega, e expor a sua concordância ou não.

O estudante passa a ter um profundo conhecimento sobre a área estudada visto que quando se depara com um problema, e ainda real, ele precisa estudar, pesquisar, analisar, debater e unir teoria e prática, entrando, efetivamente, no mundo do problema para conseguir encontrar uma solução adequada.

Mais uma característica desta metodologia é fortalecer o hábito da pesquisa, a ABP fomenta no aluno conhecer a forma correta de realizar uma pesquisa, pois ele sabe que não é qualquer conteúdo que irá servir. Ele precisa reconhecer as fontes seguras e confiáveis e descartar aquelas sem garantias.

Ainda pode-se dizer que esta metodologia desenvolve competências, habilidades e atitudes nos estudantes, o famoso CHA, porque será colocado diante de situações que demandam a realização de diálogos, melhorando seu processo de comunicação, o exercício da liderança, o trabalho em equipe, o espírito de negociação, e o desenvolvimento da capacidade de influenciar pessoas. (Herarth, 2020)

saiba mais

Ficou curioso sobre o Método do Arco? Então veja os seguintes vídeos.

"Metodologias ativas: PBL, Projeto Integrador e Arco de Maguerez"

Etapas e estratégias de aplicação da PBL

Esta metodologia permite sequências de trabalho que podem variar segundo o nível e o tipo de ensino, a área de conhecimento e os objetivos de aprendizagem que se quer atingir. Em linhas gerais apresenta as seguintes etapas:

Figura 2 - Etapas da Aprendizagem Baseada em Problemas

Fonte: Araújo, 2011 como citado em Barbosa & Moura, 2013

Podemos perceber que a cada etapa o aluno se envolve com  uma tarefa que propicia a assimilação e a fixação do conhecimento, partindo da compreensão inicial do problema, passando pela análise e pela busca de uma solução, até apresentar o trabalho e as análises dos resultados.

O foco não é ter sempre o problema resolvido na etapa final, mas enfatizar o processo que foi seguido pelo grupo na busca de uma solução, valorizando a aprendizagem autônoma e cooperativa. (Barbosa & Moura, 2013)

Mello, Neto e Petrillo (2019) reiteram essa informação apresentando as estratégias de aplicação da Aprendizagem Baseada em Problemas. São elas:

Vantagens e desvantagens

Dentre algumas das vantagens da Aprendizagem Baseada em Problemas, podemos citar:

Porém, como nem sempre tudo é positivo, ela também apresenta algumas desvantagens. Vejamos:

Objetivos e TICs que podem ser utilizadas

Mello, Neto e Petrillo (2019) trazem como contribuição os objetivos desta metodologia, que em alguns casos se assemelham com as vantagens. Dentre elas, eles elencam:

Com relação às TICs, já sabemos que hoje em dia, o tempo todo, nos deparamos com pessoas que estão com um celular nas mãos, mexendo em algum aplicativo, mandando e recebendo mensagens, olhando a hora, o clima ou fazendo uma ligação. 

A Aprendizagem Baseada em Problemas procura inseri-las em seu contexto educacional. Mesmo nas escolas em que ainda não há muitas ferramentas inseridas, o uso do celular pelos alunos no chamado mobile learning (ou aprendizagem móvel) viabiliza pesquisas on-line e com isso possibilitam o aprofundamento dos estudos.

Sendo assim vamos citar algumas tecnologias que podem ser usadas enquanto ocorre a prática da PBL dentro e/ou fora da sala de aula. Os alunos podem:

Todos esses exemplos podem ser usados, e muitos outros também, porém é necessário relembrar que não são as TICs que fazem a Aprendizagem Baseada em Problemas visto que já sabemos que as metodologias ativas não dependem das tecnologias.

Em resumo

Conhecemos, ao longo desta aula, um pouco sobre a origem da PBL e compreendemos que ela existe desde a origem do Método do Arco, da teoria de Charles Maguerez. Trata-se de uma metodologia que tem como estratégia que os alunos, antes da aula, tomem conhecimento sobre determinado assunto, anotando suas dúvidas, e na aula ocorrem as discussões sobre os problemas levantados, transformando os estudantes em sujeitos ativos de suas aprendizagens. Pudemos conhecer sobre suas etapas, vantagens e desvantagens, compreendendo que ela gera uma maior autonomia para os estudantes, desenvolvendo o pensamento crítico e vinculando teoria e prática, porém, em alguns casos, ainda existe certa resistência visto ser uma práxis moderna e inovadora. Espero que tenha gostado.

na ponta da língua

Referências
Bibliográficas

Bacarin, Ligia Maria Bueno Pereira. (2020) Metodologias Ativas. [livro eletrônico] Curitiba: Contentus.

Barbosa, Eduardo Fernandes; & Moura, Dácio Guimarães de. (2013). Metodologias Ativas de aprendizagem na educação profissional e tecnológica. B. Tec. Senac. Rio de Janeiro, v. 39, n.2, p.48-67 mai-ago.

Herarth, Helbe Heliamara. (2020). Aprendizagem Baseada em Problemas. [livro eletrônico] Curitiba: Contentus.

Mello, Cleyson de Moraes; Neto, José Rogério Moura de Almeida; & Petrillo, Regina Pentagna. (2019) Metodologias Ativas: desafios contemporâneos e aprendizagem transformadora. [livro eletrônico] 2ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos.

Munhoz, Antonio Siemsen. (2019). Aprendizagem Ativa via Tecnologias. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.

Souza, Henderson Tavares de. Baião, Emerson Rodrigo; & Veraszto, Estéfano Vizconde. (2018) Tecnologias Educacionais: aplicações e possibilidades. Tendências em Tecnologias Educacionais em Educação a Distância. Ufscar.

Teorias e Práticas de Aprendizagem Ativa - EDU682 - 2.3

A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL)

Imagens: Shutterstock

Livro de Referência:

Aprendizagem ativa via tecnologias

Antonio Siemsen Munhoz

InterSaberes, 2019

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